sábado, 25 de agosto de 2018

Elis, o filme.

Um filme de Hugo Prata, 2016. Uma bela obra; (sobretudo pelo ambiente de época).
Relata a trajetória de Elis Regina; seus rompantes; seu talento; seu entusiasmo, e por fim o aprisionamento dos brasileiros, homens e mulheres, em especial os mais jovens e/ou comprometidos com a liberdade civil; com a democracia nos terríveis anos de chumbo.
Vale muito assistir - disponível na internet e nos canais de streaming, pago ou gratuito,
(ver + no youtube.com.br).

sábado, 18 de agosto de 2018

A Ovelha negra

Havia um país onde todos eram ladrões. A noite, cada habitante sia, com a gazua, (chave falsa) e a lanterna, e ia arrombar a casa de um vizinho. Voltava de madrugada, carregado, e encontrava a sua casa arrombada. E assim todos viviam em paz e sem prejuízo, pois um roubava o outro, e este, um terceiro, e assim por diante, até que se chegava ao último, que roubava o primeiro. O comércio naquele país só era praticado como trapaça, tanto por quem vendia como por quem comprava. O governo era uma associação de delinquentes vivendo à custa dos súditos, e os súditos por sua vez só se preocupavam em fraudar o governo. Assim a vida prosseguia sem tropeços, e não havia ricos nem pobres. Ora, não se sabe como, ocorre que no país apareceu um homem honesto. A noite, em vez de sair com o saco e a lanterna, ficava em casa fumando e lendo romances.
Vinham os ladrões, viam a luz acesa e não subiam.
Essa situação durou algum tempo: depois foi preciso fazê-lo compreender que, se quisesse viver sem fazer nada, não era essa uma boa razão para não deixar os outros fazerem. Cda noite que ele passava em casa era uma família que não comia no dia seguinte.
Diante desses argumentos, o homem honesto não tinha o que objetar. Também começou a sair de noite e voltar de madrugada, mas não ia roubar. Era honesto, não havia nada a fazer. Andava até a ponte e ficava vendo passar a água embaixo. Voltava para casa , e a encontrava roubada.
Em menos de uma semana o homem honesto ficou sem um tostão, sem o que comer, com a casa vazia. Mas até aí tudo bem, porque era culpa sua; o problema era que seu comportamento criava uma grande confusão. Ele deixava que lhe roubassem tudo e, ao mesmo tempo, não roubava ninguém; assim, sempre havia alguém que, voltando para casa de madrugada, achava a casa intacta: a casa que o homem honesto deveria ter roubado. O fato é que pouco depois, os que não eram roubados acabaram ficando mais ricos que os outros e passaram a não querer mais roubar. E além disso, os que vinham para roubar a casa do homem honesto sempre a encontravam vazia: assim iam ficando pobres. Enquanto isso, os que tinham se tornado ricos pegaram o costume, eles também, de ir de noite até a ponte, para ver a água que passava embaixo. Isso aumentou a confusão, pois muitos outros ficaram ricos e muitos outros ficaram pobres.
Ora, os ricos perceberam que indo de noite até a ponte, mais tarde ficariam pobres. E pensaram: Paguemos aos pobres para irem roubar para nós. Fizeram-se os contratos, estabeleceram-se os salários, as percentagens: naturalmente, continuavam a ser ladrões e procuravam enganar-se uns aos outros. Mas, como acontece, os ricos tornavam-se cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Havia ricos tão ricos que não precisavam mais roubar e que mandavam roubar para continuarem a ser ricos. Mas se paravam de roubar, ficariam pobres, porque os pobres os roubavam. Então  pagaram aos mais pobres dos pobres para defenderem as suas coisas contra os outros pobres, e assim instituíram a polícia e construíram as prisões.
Dessa forma, já poucos anos depois do episódio do homem honesto, não se falava mais de roubar ou de ser roubado, mas só de ricos ou de pobres; e no entanto todos continuavam a ser pobres.
Honesto só tinha havido aquele sujeito, e morrera logo, de fome.
Autor Italo Calvino, (1923/1985), no livro "Um general na biblioteca), Cia das Letras 2007.

domingo, 12 de agosto de 2018

Malala

Acabei de ler o livro de Malala, a garota paquistanesa, (defensora dos direitos das meninas estudarem). A versão em português é de 2013. Veja Capa. Estava ansioso por lê-lo; por se tratar de "algo" diferente do que conhecemos.
O livro é bastante interessante. Escrito a Quatro mãos, (Malala e a jornalista Christina Lamb). Cheio de relatos minuciosos de um país e cultura - que para nós ocidentais, é muito atrasado - profunda e radicalmente religioso, no caso o islamismo - um país muito pobre e sobretudo violento.
Como já disse tem uma linguagem  e um olhar bastante feminino, cheio de romantismo inocente e muito "mi-mi-mi". Romantismo este herdado de seu pai - professor e militante local, (um tipo de vereador sem remuneração).
Pois na metade da leitura já concluímos que contra a radicalização do Talibã, (milícia armada, homens e mulheres bomba). Lei islâmica ou martírio, "shariat ya shahadat". Não há nenhuma possibilidade de diálogo e entendimento. Razão pela qual 15 dias após receber um tiro no rosto, dentro do ônibus escolar. Foram 3 tiros, em 3 meninas. Malala e sua família vivem na Inglaterra. Na época tinha 15 anos, (outubro de 2012),  hoje está com 21 anos.